30/11/2011

Alves Redol - Biografia


1911-1927

Nasce em Vila Franca de Xira, a 29 de Dezembro de 1911. Filho de António Redol da Cruz, comerciante, e de Inocência Alves Redol, frequenta o Colégio Arriaga, em Lisboa, onde conclui o curso comercial.
Espírito curioso, atrás do balcão da loja de seu pai tem oportunidade de se aperceber do mundo dos gaibéus, dos camponeses e dos pescadores da sua região.

1928-1937

No dia 5 de Abril de 1928 embarca no “Niassa” a caminho de Luanda. Arranja emprego ao fim de algum tempo, mas como o salário é curto, dá lições numa escola nocturna daquilo que aprendeu no seu curso secundário. Contudo, fica doente e isso obriga-o a regressar à Metrópole.
Empregado de escritório de profissão, começa por tomar parte muito activa na vida social da região do concelho de Vila Franca de Xira. Essa actividade dinamiza e mobiliza muita gente das classes trabalhadoras. Alves Redol profere e organiza conferências e palestras, atento e identificado com o Povo.
A sua primeira novela, “Drama na Selva”, é publicada em “O Notícias Ilustrado”, de Lisboa, em 5 de Junho de 1932. Outras novelas se seguem na mesma publicação. Passa a colaborar assiduamente no jornal vilafranquense “Mensagem do Ribatejo” onde dirige, em 1939, uma página literária. Em 1936 casa com Maria dos Santos Mota. Alves Redol colabora em jornais de relevo na vida nacional anti-Estado Novo, anti.salazarismo: “O Diabo”, “Sol Nascente”. Em 29 de Novembro de 1936 surge a sua primeira colaboração em “O Diabo”, o conto “Kangondo”, de ambiente africano. De seguida publica crónicas que indicam um estudioso identificado com os problemas sociais da sua região (a série “De Sol a Sol”, “As lezírias”, “Campinos”), dois artigos sobre o escritor brasileiro Amando Fontes, alguns poemas.
Nos anos trinta insere-se na luta antifascista clandestina.

1938-1945

Editado pelo autor, “Glória, uma Aldeia do Ribatejo”, é um estudo etnográfico onde as aptidões ficcionistas de Alves Redol mais uma vez se patenteiam. Neste estudo se revela o método que marcará toda a sua obra literária: a vivência e o reconhecimento profundo dos problemas, só atingido com o contacto estreito com os locais e grupos sociais sobre que se debruça. “Gaibéus” surge em 1939. Com este romance inicia Alves Redol o ciclo de ficção temática ribatejana de camponeses e pescadores da borda d’água. “Gaibéus”, “Marés”, “Avieiros”, “Fanga”.
Escritor empenhado na luta pela melhoria independente das classes trabalhadoras, é preso em 12 de Maio de 1944. , debaixo de uma última ameaça, que chega a concretizar-se: nem um lápis nem um papel para escrever, como se quisessem tratá-lo como um novo Robinson Crusoé no centro de uma sociedade fascizante: exprimir-se, ele, Alves Redol, traçando os seus pensamentos com as ulhas nas paredes das celas. Reclamam-no, em 10 de Novembro de 1945, para a Comissão Central do Movimento de Unidade Democrática (M.U.D.). Participa activamente nas campanhas da oposição democrática aquando da realização de “eleições” promovidas pelo regime. Na sequência da apreensão de exemplares dos seus livros (entre os seus papéis foi encontrado um documento comprovativo da apreensão de “Gaibéus” em Tomar em Maio de 1940), das pressões exercidas sobre os editores, é obrigado pela entidade censória a submeter os originais a censura prévia, sendo, ao que se sabe, o único escritor português a sofrer essa situação humilhante durante o período de alguns anos.

1946-1963

“Maria Emília” é a sua primeira obra de teatro. Segue-se “Forja” em 1948. Nomeado em 1947 Secretário-Geral da Secção Portuguesa do Pen Club – associação internacional de escritores – segue no ano seguinte para Wroclaw, na Polónia, integrado na Delegação Portuguesa que intervem no Congresso dos Intelectuais para a Paz, onde fala em nome da Delegação. É continuamente vigiado pela PIDE, nomeadamente na volta das suas deslocações ao estrangeiro, por ser um escritor de grande impacte [o] popular e muito admirado pelos trabalhadores das fábricas e dos campos.
Pelo romance “Horizonte Cerrado” primeiro volume de uma trilogia sobre os vinhateiros do Douro, recebe, em 1950, o Prémio Ricardo Malheiros.
Escritor de importância internacional, traduzido, convive com artistas e escritores em França, na Polónia, em Espanha. É impedido de participar num Congresso de Escritores na América Latina. Também escreve para a infância e para a juventude, e um dos seus mais belos livros tem como protagonista Constantino, um pequeno amigo que ele vê crescer no Freixial, localidade onde passa largos períodos de repouso saudável e escreve algumas das suas obras.
Em 1961 publica o que é considerado pela crítica o seu melhor romance: “Barranco de Cegos”. Inicia então, a sua actividade na publicidade. Em Outubro de 1963 é de novo preso.

1964-1969

Neste período, produz apenas um romance, mas introduz alterações formais importantes (e elabora significativos prefácios) nas obras reeditadas, escrevendo duas peças de teatro e os livros infantis da série “Maria Flor”.
Escritor que é do seu tempo e nele participa na dupla mas única qualidade de homem e escritor, Alves Redol pode servir de exemplo na procurada e singular condição humana de autodidatismo conseguido pela experiência, pela observação, pelo estudo, pela cultura, pela actividade sócio-política – que sempre procura transmitir aos outros e depois vaza nos seus livros, dos mais admiráveis na nossa literatura.
Morre novo, o grande escritor, a 29 de Novembro de 1969, no Hospital de Santa Maria, depois de muitos dias de padecimento.

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