08/03/2010

A fuga de Sharpe: a História na ficção

Bernard Cornwell procura a vastidão dos mares para escrever os seus romances. É o próprio que o assume, recusando entrevistas, apresentações públicas e outras formas de divulgação dos seus trabalhos. Durante cerca de seis meses, vai dando forma à vida dos personagens que convivem na sua imaginação.

Sharpe acompanha-o desde há muito. E, se os leitores portugueses, ao contrário dos demais, ainda não lhe conhecem todas as aventuras, vão descobrindo, uns atrás dos outros, cenários da História onde a presença de Mister Sharpe se encaixa subtil e intensamente.

No volume CAMPANHA DO BUÇACO. PORTUGAL 1810, mais uma vez entramos na aventura napoleónica em terras de Portugal. Massena e os seus homens preparam-se para cumprir as ordens de Napoleão: chegar a Lisboa. Mas as forças anglo-portuguesas estão de sobreaviso. Reorganizam-se. Preparam-se no mais estrito segredo as fortificações que a História passará a designar por "LINHAS DE TORRES VEDRAS". As populações procuram defender os seus bens, escondendo-os ou arrastando-os consigo, na infindável caminhada para lá das Linhas protectoras. Mas, na vida real, há sempre os heróis e os vilões. Tal como as personagens que nesta aventura se cruzam: Ferragus e seu irmão major Ferreira, traindo os interesse do reino em nome do proveito pessoal; o general Crawfurd, no alto da serra do Buçaco, comandando a Divisão de Ligeiros no meio da metralha incessante, apelando à vigança pelso ingleses mortos na Corunha; a preceptora inglesa Sarah, cuja vida se vê totalmente alterada pelos acontecimentos, e que acaba, coberta de lama, de mosquete na mão, a integrar um grupo de fugitivos; a portuguesa Joana, que pega em armas para garantir a sobrevivência num quotidiano repleto de perigos; e, sempre, Sharpe e o seu fiel harper, a ultrapassar todos os obstáculos, por mais difíceis que sejam.

Bernard Cornwell não nos desilude. Quando chegamos ao fim da aventura, ele coloca nas nossas mãos a possibilidade de entrar pela História. De conhecer mais. De confirmar a veracidade do que acabámos de ler. A "Nota Histórica" que finaliza o seu livro, é um novo ponto de partida. À nossa responsabilidade. Enquanto aguardamos que Sharpe e harper voltem a marchar.


por Manuela Catarino

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