22/06/2010

José Saramago (1922-2010)


Passado, presente, futuro

Eu fui. Mas o que fui já não me lembra:
Mil camadas de pó disfarçam, véus,
Estes quarenta rostos desiguais,
Tão marcados de tempo e macaréus.

Eu sou. Mas o que sou tão pouco é:
Rã fugida do charco, que saltou,
E no salto que deu, quanto podia,
O ar dum outro mundo arrebentou.

Falta ver, se é que falta, o que serei:
Um rosto recomposto antes do fim,
Um canto de batráquio, mesmo rouco,
Uma vida que corra assim-assim.

José Saramago - Os poemas possíveis: poesia. Lisboa: Caminho, 1985

imagem retirada daqui

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